COLOCAÇÃO DE INTRAÓSSEA

"Em cada uma das suas manifestações o conhecimento científico reflecte assim a inteligência Humana, que, pela sua natureza operatória, procede da acção no seu conjunto, e seria mutilar o carácter de construção indefinidamente fecunda, que o conhecimento, a inteligência e a acção apresentam, quer reduzir o conhecimento ao papel passivo do mero registro, papel com que teria de se contentar na hipótese de a sua origem ser sensorial".

Jean Piaget in Psycohologie et epistémologie
















Nas imagens anteriores todos nós treinámos numa coxa de frango. Agora passo a descrever a técnica.


A agulha descartável para perfusão intraóssea constitui um meio simples e seguro de acesso vascular para administração de líquidos e fármacos a crianças em estado crítico ou com graves lesões. A perfusão intraóssea encontra-se apenas recomendada em casos de emergência com risco de vida associado, quando o acesso vascular é crítico e as vias convencionais de acesso não se encontram disponíveis ou não são praticáveis.

Indicações

A administração de líquidos por via intra-óssea pode ser considerada como uma alternativa terapêutica em recém-nascidos e crianças em caso de paragem cardíaca, choque, traumatismo ou quando os potenciais benefícios de um rápido acesso venoso justificam a baixa incidência de complicações.

A. Estilete
B. Cânula
C. Delimitador de profundidade
D. Capuz Universal

Contra-Indicações

Este procedimento não deve ser usado nas seguintes situações:
- osteogenese imperfeita
- osteoporose
- choque séptico/infecções sistémicas graves
- zonas de celulite
- queimaduras infectadas
- fracturas do fémur ou da tíbia, uma vez que poderá verificar-se um extravasamento de fluído para o tecido subcutâneo.

Nota A perfusão intra-óssea só deve ser usada até obtenção de um acesso venoso e, raramente, se torna necessária após reanimação e estabilização (1-2 horas).
A perfusão intra-óssea deve ser realizada com anestesia local sempre que o doente se encontrar consciente.

Recomendações para Colocação da Agulha

Porção Proximal da Tíbia

Use a superfície lisa mediana da diafise proximal tibial (planalto tibial), 1-2 cm abaixo da tuberosidade tibial (1-2 dedos de largura). Este local a nível da porção proximal da tíbia pode ser usado em crianças até 5-6 anos de idade .

Porção Distal da Tíbia

Utilize a superfície mediana da tíbia, próximo do maléolo interno, local onde o córtex do osso e o tecido sobrejacente têm ambos uma pequena espessura. A porção distal da tíbia é o local de eleição em crianças mais velhas.

Porção Distal do Fémur

Use o terço inferior do fémur na porção média, aproximadamente 3 cm acima do côndilo lateral. Devido aos músculos sobrejacentes e ao tecido adiposo é, por vezes, difícil palpar nos acidentes ósseos.

Técnica Intra-óssea

1. Fixe a perna do doente colocando um cobertor atrás do joelho. Usando uma técnica asséptica, com uma solução de povidona iodada ou outro desinfectante que esteja indicado pelas normativas  vingentes e prepare o local escolhido.

2. Em doentes que se encontram conscientes aplique uma anestesia local.

3. Coloque a agulha numa posição correspondente a um ângulo de 90 graus em relação ao osso numa direcção contrária à da articulação e, para introdução da agulha, aplique uma pressão com um movimento de rotação constante. A agulha possui um delimitador ajustável que controla a profundidade de penetração a partir do local de perfusão seleccionado. Se for necessário um maior grau de penetração, retire o delimitador de profundidade.

4. A pressão aplicada deverá ser mantida até atingir a medula óssea, altura em que se verificará uma diminuição da resistência. Em recém-nascidos ou crianças, a distância desde a pele até ao córtex raramente é superior a 1 cm. A agulha deve ficar a direito sem qualquer suporte.

Nota Para evitar que a agulha seja introduzida até ao lado oposto do osso, segure a agulha na palma da mão com o dedo indicador colocado 1 cm acima da zona biselada da agulha, o que evitará que seja ultrapassada esta marca.

5. Para remover o estilete, rode o estilete 90° no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio e retire o estilete da pega. Adapte à agulha uma seringa de 2ml, 5 ml ou 10 ml contendo soro fisiológico. Aspire a medula para o interior da seringa e injecte o soro fisiológico para limpar a agulha e confirmar a sua correcta colocação.

Nota Nem sempre se verifica uma aspiração da medula para a seringa apesar de esta se encontrar correctamente colocada, confie na sua experiência, esta situação é rara mas há dados estatísticos que suportam que por vezes se verifica.

6. Adapte a agulha a um sistema de perfusão intravenosa convencional e inicie a perfusão por acção da gravidade ou pressão induzida.

7. A agulha deve ser fixada, utilize uma Kocher e faça preensão da mesma, em seguida envolva com uma ligadura, método observavél nas fotografias do início . Regule a quantidade de líquido para assegurar uma perfusão adequada. Em casos de choque, a acção da gravidade pode não ser eficaz para garantir uma rápida perfusão, pelo que se deve recorrer a uma pressão de perfusão.


8. Observe o local de perfusão para detectar um extravasamento do líquido, que indicará uma colocação demasiado superficial ou que o osso se encontra perfurado de ambos os lados.

Atenção Apenas para uma única utilização. A reutilização poderá resultar num produto não funcional e contribuir para a contaminação cruzada.

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